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Ativismos alimentares e políticas públicas urbanas


Você sabe o que é um ativista alimentar? E o que é o ativismo alimentar? De onde ele surgiu e quais suas práticas? São diversas as perguntas e questionamentos que aparecem quando o tema dos ativismos alimentares surge nos mais diversos âmbitos, discussões, textos, mídias sociais e até mesmo nas séries televisivas.


Quando falamos de ativismos alimentares estamos nos referindo a uma ganho de centralidade da alimentação, por volta dos anos 60, quando organizações sociais e grupos de protesto passam a ter em seus repertórios de ação a alimentação. Desde então, os ativismos alimentares estão atrelados a temas relacionados à gastronomia, valorização da origem dos animais, preocupações de saúde e estéticas, urgência ambiental e climática, entre outras. Vale lembrar, no entanto, que estas pautas nem sempre estão conectadas a posições liberais e progressistas, podendo estar associadas também a posições reacionárias e conservadoras. Tampouco é intrínseco às mobilizações de ativismos alimentares levar em consideração questões de justiça social, pobreza, exclusão e democracia, mudanças climáticas e reforma agrária. Em alguns casos, por exemplo, a valorização de alimentos tradicionais está ligada a valores nacionalistas e etnocêntricos. Em outros, a defesa da “refeição em família” pode fortalecer uma visão conservadora do que é considerada uma família tradicional no sistema patriarcal. Ou seja, os ativismos alimentares englobam grupos de diferentes espectros políticos, valores, repertórios e práticas.


Fátima Portilho e Maycon Noremberg Schubert, no livro Desafios e tendências da alimentação contemporânea - Consumo, mercados e ação pública, trazem uma definição ampla de ativismo alimentar, como sendo “um fenômeno social amplo, cujo elemento motor e de mobilização social passa pela modificação de práticas agrícolas, comerciais e alimentares, pela construção de mercados e pela formulação e implementação de políticas públicas e regulatórias, visando a, em alguma medida, transformar o sistema alimentar, o ambiente alimentar e as práticas alimentares, a partir de amplos e conflituosos espectros políticos, em diferentes escalas e configurações sociais”.


Comida do Amanhã participa de Projeto de Pesquisa focado em Ativismos Alimentares


De acordo com a definição proposta acima, as diferentes formas de ativismos alimentares podem ter incidência na elaboração e implementação de políticas públicas. Em decorrência da expertise do Instituto Comida do Amanhã (CdA) com o tema de Comida e Cidades, especialmente em políticas alimentares municipais e sua governança, expertise fortalecida com o desenvolvimento do Laboratório Urbano de Políticas Públicas Alimentares, o LUPPA, fomos convidadas ano passado para ser uma instituição parceira do Projeto de Pesquisa intitulado Ativismos alimentares e politização da alimentação: uma análise comparada das interações entre movimentos sociais, mercados e políticas públicas nas regiões metropolitanas brasileiras, apoiado pelo CNPQ, idealizado e sediado pelo Grupo de Estudos em Agricultura, Alimentação e Desenvolvimento (GEPAD) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e do qual participam outras nove universidades e centros de estudos. Os principais objetivos deste projeto, que se desenvolverá até dezembro de 2024 são mapear, analisar e comparar as estratégias de ativismo alimentar de movimentos sociais que atuam em nove capitais e regiões metropolitanas brasileiras, sendo elas Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Manaus, Natal, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Luís e São Paulo.


No início do mês de abril desse ano foi realizada, em Porto Alegre, a primeira oficina do projeto juntando representantes de todas as instituições parceiras e do Instituto Comida do Amanhã para debater a produção acadêmica sobre ativismos alimentares; alternativas conceituais e metodológicas para estudar ativismos alimentares e politização da alimentação; além da apresentação de um mapeamento inicial de ativismos alimentares nas capitais e regiões metropolitanas a serem estudadas pelo projeto e a definição dos casos de estudo, levando em consideração comparabilidade e diversidade. No evento, a mesa de abertura teve como proposta apresentar algumas experiências de ativismo alimentar local e contou com a participação do Instituto Camélias, do Consea RS, da Cooperativa GiraSol e da Feira Vegana.


Até o final do projeto está prevista a publicação de um livro com os principais resultados; um briefing por caso a ser estudado para divulgação dos principais resultados locais; além de artigos científicos, teses, dissertações e participação em eventos. Também será realizado um seminário envolvendo gestores de políticas públicas e think tanks para discutir a interação entre ativismos alimentares e políticas alimentares.


Fique ligado nas nossas redes para acompanhar mais de perto a evolução deste projeto.


Foto: Juliana Rossini

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