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Sistemas Alimentares e COVID-19: atualizações Agosto 2020

Atualizado: 28 de jan. de 2021



Os sistemas alimentares estão sendo particularmente afetados com a pandemia de COVID-19 - desde a produção ao abastecimento, consumo e saúde. Em julho, trouxemos alguns impactos da pandemia sobre os sistemas alimentares.

Você pode conferir o primeiro post aqui.

Este mês, seguimos monitorando os acontecimentos, dividindo-os em quatro categorias: fome, alimentação escolar, padrões de consumo e obesidade. Incluímos atualizações de alguns tópicos que levantamos no mês passado, como o Projeto de Lei 735 e a distribuição de auxílio para alunos da rede pública na cidade do Rio de Janeiro.


Abaixo, as principais atualizações do mês de agosto:


O que comemos muda o mundo.


 

COVID-19 & Fome.

A agência de notícias Bloomberg publicou uma extensa reportagem apontando que, em diversas partes do mundo, altas taxas de desperdício e perda de alimentos continuam ocorrendo enquanto a fome crônica cresce.



No Brasil, a UNICEF lançou um estudo, realizado pela IBOPE publicou o relatório “Impactos primários e secundários da COVID-19 em Crianças e Adolescentes”. Entre outras informações importantes, destaca-se o fato de que aproximadamente um a cada cinco brasileiros passou por algum momento em que não tinha dinheiro para comprar comida quando os alimentos acabaram. As “filas da fome” estão crescendo em capitais como Rio de Janeiro e São Paulo, e houve aumento na distribuição de refeições gratuitas a moradores de rua.


O PL 735, projeto de lei que trouxemos no último compilado de acontecimentos relacionados à pandemia, propunha apoiar financeiramente os agricultores familiares atingidos pela crise, de forma a reduzir a fome no país e evitar uma crise de abastecimento. Havia sido aprovado na Câmara dos Deputados e no Senado Federal e caminhava para sanção Presidencial.

A atualização que trazemos este mês é de que 14 de 16 artigos foram vetados pelo Presidente da República.


Ainda em relação à políticas públicas, o governo pretende isentar temporariamente os impostos de arroz, milho e soja para que a alta do dólar não encareça os produtos da cesta básica.


Da mesma forma que no Brasil, nove milhões de brasileiros deixaram de comer por falta de dinheiro durante a pandemia, nos Estados Unidos também cresceu o número de cidadãos que afirmam não ter renda suficiente para comprar alimentos.


Mas existem experiências interessantes acontecendo como em São Francisco, na Califórnia, onde o valor arrecadado através de impostos sobre bebidas açucaradas (Soda Tax) está sendo revertido em auxílio emergencial para combater a fome na cidade.



COVID-19 & Alimentação escolar.

A Câmara dos Deputados e o Senado Federal aprovaram o texto base do Projeto de Conversão de Lei 22/2020, que estabelece normas excepcionais para o ano letivo de 2020, em resposta à pandemia de coronavírus.

O Idec, junto à Act Brasil e a Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável enviaram nota técnica ao ministro da Casa Civil, solicitando o veto do oitavo artigo do Projeto, que dispõe sobre o PNAE. O artigo permitiria a distribuição não só de alimentos mas do dinheiro do Programa Nacional de Alimentação Escolar diretamente às famílias, o que, segundo o Idec, resultaria na transferência de um valor irrisório que não é suficiente para garantir a segurança alimentar e nutricional dos alunos (principal propósito do PNAE).


Pesquisadores da UNIRIO (Alessandra da Silva Pereira, Flávia Milagres Campos, Cláudia Roberta Bocca Santos, Elaine Cristina de Souza Lima, Michel Carlos Mocellin, Giane Moliari do Amaral Serra, Maria de Lourdes Carlos Ferreirinha, Ana Beatriz Coelho de Azevedo) publicaram estudo levantando os desafios na execução do PNAE durante a pandemia e a importância de estruturá-lo e mantê-lo visto que não há previsão de reabertura das escolas.


Na cidade do Rio de Janeiro, a Prefeitura anunciou a distribuição de “Kits Merenda” para compensar a falta de merenda escolar para os alunos. Os kits consistem em cartões-alimentação de pouco mais de R$ 50,00 por estudante e cestas básicas cujos itens são majoritariamente adquiridos de grandes redes de supermercado, contrariando os princípios do Programa Nacional de Alimentação Escolar.


Funcionários foram contratados pela Prefeitura para, entre outras ações publicitárias, gravar depoimentos positivos das famílias que receberam as cestas como condição para o recebimento. Além disso, houveram queixas sobre a qualidade dos alimentos oferecidos e de 600 mil alunos, somente 450 mil receberam cesta básica, e apenas uma no período de quatro meses.


Em São Paulo, o Governo do Estado anunciou a adoção de merendas secas (produtos alimentícios majoritariamente ultra processados) na retomada das atividades, alegando menor necessidade de manipulação e redução do risco de contágio. É importante lembrar que o Estado já adotou a distribuição de merenda seca fora da situação de pandemia no passado.



COVID-19 e Padrões de consumo.

O Instituto Conexões Sustentáveis - Conexus, lançou o Plano de resposta ao Covid-19. Como parte do plano foram realizados uma série de eventos on-line, onde foi identificado um crescimento no consumo de produtos da sociobiodiversidade durante a pandemia.


Segundo a CONAB, houve queda no preço das hortaliças e elevação do preço das frutas. Houve ainda queda no nível de exportações intra regionais na América Latina, principalmente de frutas e hortaliças. A baixa foi fortemente influenciada pela queda do poder de compra da população brasileira, segundo relatório da FAO


A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE, apontou queda no consumo de arroz, feijão e frutas pelos brasileiros e crescimento no consumo de ultra processados.

Confirmando a tendência, um estudo realizado com parte dos participantes do NutriNet (pesquisa do Nupens-USP sobre a alimentação dos brasileiros), apontou aumento no consumo de alimentos in natura durante a pandemia. Contudo, cresceu o consumo de ultraprocessados entre os menos escolarizados e nos Estados do Norte e Nordeste do país.


Ainda segundo a FAO, o desperdício de alimentos cresceu durante a pandemia. Uma das causas é o fechamento de canais de venda para agricultores como as feiras. Uma reportagem sobre o oeste da Bahia mostra os desafios que os pequenos produtores estão enfrentando para escoar sua produção e algumas alternativas como a comercialização de cestas on-line.




COVID-19 & Obesidade.

Um Estudo publicado no Jornal de Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria aponta a forma como a pandemia está acentuando os casos de obesidade, colesterol alto e diabetes infantil.


Em comparação com o mesmo mês do ano anterior, ocorreu redução significativa no número de passos dados por cidadãos do mundo todo, sugerindo menor atividade física em decorrência do isolamento. No Brasil, a queda foi de 17,4%. A “pandemia de sedentarismo” pode levar a um surto de obesidade mundial.


Quatro revisões sistemáticas reforçaram a associação entre produtos alimentícios ultraprocessados e doenças crônicas não transmissíveis. No contexto da publicação destes estudos, o NUPENS-USP (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde Pública, Universidade de São Paulo) realizou um Webinar correlacionando as pandemias de Covid-19 e o crescimento de doenças como hipertensão, diabetes e obesidade ao consumo de industrializados.



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