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Dia Nacional da Economia Solidária: sustentabilidade em equilíbrio


No dia 15 de dezembro é comemorado o Dia Nacional da Economia Solidária – uma homenagem ao nascimento do líder seringueiro Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, assassinado em 1988. A Lei 13.928/19, que instituiu essa data, foi sancionada em 2019 e, em apenas três anos, o debate sobre um novo modo de produção e consumo baseado no pensamento coletivo se mostrou ainda mais necessário. As consequências da pandemia da Covid-19, o aumento da desigualdade social e as crises em diversas áreas deixaram muitos brasileiros em um estado de desalento. Mas qual o papel da Economia Solidária neste cenário?

O conceito de Economia Solidária vai ao encontro dessas necessidades, é um modo específico de organização de atividades econômicas. Ela se caracteriza pela autogestão, ou seja, pela autonomia de cada unidade ou empreendimento, e pela igualdade entre os seus membros. A economia solidária vem sendo estudada e debatida há muito tempo, não é uma invenção de agora. Ela já tem uma longa história, tanto no Brasil como em outros países. Podemos dizer que uma das primeiras fontes são os povos indígenas, que culturalmente praticavam e ainda praticam a economia com base na partilha e solidariedade.


Segundo o economista Paul Singer, a origem urbana da Economia Solidária vem das lutas históricas dos/as trabalhadores/as no início do século XIX, sob a forma de cooperativismo, como uma das formas de resistência contra o avanço avassalador do capitalismo industrial - ou seja, ela não nasce a partir de uma tese econômica, mas das experiências de trabalhadores que buscavam se organizar de uma forma diferente.


Já no Brasil, ela assume grande relevância no final do Século XX, como resposta ao conjunto de desafios socioeconômicos que marcaram o período e a alta vulnerabilidade dos trabalhadores e da população. Nas áreas rurais, a economia solidária vem sendo adotada como modelo organizativo das atividades produtivas nos assentamentos de reforma agrária, em experiências de agricultura familiar e de base agroecológica, no artesanato, nas atividades extrativistas tradicionais de pesca, apicultura, e nas comunidades e povos tradicionais sendo compreendida, cada vez mais, como estratégia de promoção do etnodesenvolvimento (desenvolvimento com respeito às características étnicas e culturais dos povos).

Consumo consciente: o outro lado da moeda Se de um lado existe produção, no outro existe consumo. Sabemos que diversos fatores externos influenciam na decisão de compra como preço, tempo e economia global. Contudo, ainda podemos ser agentes de mudança neste cenário. Para entender o que é consumo consciente é necessário perceber que o consumo de toda e qualquer coisa, seja um produto ou serviço, traz consigo consequências positivas e negativas. O ato de consumir afeta não apenas quem faz a compra, mas também o meio ambiente, a economia e a sociedade como um todo. Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Akatu em 2018, é cada vez maior o número de pessoas interessadas em mudar a sua maneira de consumir.

Hoje, existem diversas possibilidades de adotar hábitos de consumo consciente como: planejamento de compras, avaliar impactos de consumo, pesquisa de produtos, reutilização de embalagens, dar preferência a produtores locais e práticas sociais. Comer é provavelmente, o maior motor de consumo global, e por isso é tão importante vincular nos dias de hoje (em um contexto majoritariamente urbano), a economia solidária à possibilidade de promover o consumo consciente.

Economia Solidária e Sistemas alimentares, o que tem a ver?

Hoje, 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil, o mesmo patamar de 30 anos atrás, de acordo com o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, feito pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan). O mesmo estudo mostra que seis de cada dez famílias têm dificuldades para comer - estão em situação de insegurança alimentar. São aproximadamente 125 milhões de brasileiros que não têm a garantia de comer todos os dias. É neste mesmo contexto que, no trimestre encerrado em julho, o número de empregados sem carteira assinada no setor privado bateu recorde, chegando a 13,1 milhões de trabalhadores. O fortalecimento de cooperativas e empreendimentos ligados à economia solidária, que em sua maioria são do setor de alimentos, são alternativas para esta crise, fortalecendo cadeias produtivas locais, mais justas, onde o recurso é compartilhado e todos podem ser remunerados de forma mais justa, ao mesmo tempo que amplia o acesso a alimentos saudáveis para a população.


Para ampliar as experiências de economia solidária precisamos além de rever o consumo e produção, incentivar a partilha de conhecimento e capacitação sobre a construção de sistemas econômicos e alimentares mais justos e sustentáveis em nossas comunidades. E por isso, todos somos necessários nesse processo. Você conhece experiências de economia solidária? Divulgue essa ideia. E aproveite para se aprofundar um pouco no tema com algumas dicas:


O documentário Park Slope Food Coop conta a experiência de uma cooperativa de alimentos no Brooklyn, em NY, que se tornou referência para inúmeras experiências semelhantes em todo o mundo. Assista o trailer aqui.


E aqui você pode assistir ao bate papo sobre Economia Solidária e consumo consciente, em que nossa diretora Mónica Guerra teve a oportunidade de dialogar com experiências interessantes em São Paulo.



Vamos juntos?


Fonte: MARQUES PITALUGA, C.; ALEXANDRE LE BOURLEGAT, C. Abastecimento alimentar pela agricultura familiar aos mercados institucionais em Mato Grosso do Sul. Retratos de Assentamentos, [S. l.], v. 25, n. 1, p. 69-93, 2022. DOI: 10.25059/2527-2594/retratosdeassentamentos/2022.v25i1.494. Disponível em: https://retratosdeassentamentos.com/index.php/retratos/article/view/494. Acesso em: 15 dez. 2022.

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